No dia 6 de outubro de 2025, o site Guilhotina lançou um artigo intitulado “7 de Outubro: Glória aos mártires da resistência palestiniana!“, que reverbera uma narrativa de louvamento da resistência armada palestiniana, desafiando as fronteiras entre ativismo político, radicalismo e, para alguns críticos, apologia do terrorismo.
O que diz o artigo
O texto enfatiza que, após dois anos de bombardeamentos e bloqueios, na visão do autor, Gaza continua sendo palco de uma resistência que, segundo ele, não é apenas militar, mas também simbólica e moral. As ações armadas, rockets, emboscadas, uso de túneis, são celebradas como exemplos de coragem frente a um inimigo supostamente tecnologicamente superior. O autor argumenta que tais atos heroicos são negligenciados ou distorcidos pelos meios de comunicação convencionais, que preferem retratar os palestinianos como vítimas passivas.
Também se destaca uma crítica forte às formas de solidariedade mais “aceitáveis” no Ocidente, que se limitam muitas vezes a manifestações pacíficas, condenações morais, protestos simbólicos ou flotilhas. Para o texto, essas formas são insuficientes frente ao que considera uma urgência política que exigiria “acções directas, acções massivas disruptivas” e até rupturas institucionais, como exigir que governos cortem relações diplomáticas ou militares com aliados de Israel, ou retirem-se de organizações como a NATO.
O problema: entre legitimidade e radicalização
É importante distinguir entre o direito à crítica, à solidariedade política e ao legítimo ressarcimento por injustiças e o que pode bom-sensamente ser classificado como radicalização ou apologia do uso da violência de forma indiscriminada.
- Violência como meio vs. violência como fim
O artigo não se limita a pedir justiça ou mudança através de meios pacíficos, há uma defesa explícita de ações armadas, com exaltação do uso dos “rockets e morteiros””como símbolos de resistência. Essa linha de raciocínio corre risco de legitimar ações que envolvem civis, destruição indiscriminada ou violações de leis internacionais de guerra, se não for rigorosamente contextualizada. - Polarização do discurso
O texto cria uma divisão forte: de um lado, o “império”, o “regime sionista”, o Oeste coletivo, do outro lado, a resistência, os mártires, a glória. Tal dicotomia simplifica realidades complexas, e isso pode alimentar radicalismos, intolerância ou justificar o não respeito pelos direitos humanos de todas as partes. - Efeitos práticos do discurso
Quando se exaltam ações violentas, há impactos reais: aumento de tensão social, inspirar radicalizados, possivelmente fomentar atos violentos isolados, ou reforçar políticas repressivas por parte do Estado, que usa esses discursos como pretexto para restrições à liberdade de expressão, vigilância, ou repressão de manifestações pacíficas.
A flotilha de Gaza e a retórica de apoio
A flotilha de Gaza, navios civis que tentam romper o bloqueio marítimo à Faixa de Gaza e chamar a atenção internacional tem sido um símbolo perigoso de solidariedade global. Está frequentemente presente em manifestações, debates públicos e redes sociais como um gesto de “intervir em nome da justiça humanitária”, recendo também criticas de ser apenas uma manobra publicitária.
No artigo em questão, contudo, esta flotilha é usada para ilustrar formas de solidariedade consideradas muito superficiais ou simbólicas “ações performativas” para uso público, que não enfrentam a estrutura de poder, ou que não se comprometem com o que o autor entende serem ações mais profundas. A flotilha é vista como um meio legítimo de protesto, mas também como um percursor de terrorismo.
Comparações históricas e o risco de grosso radicalismo
A retórica de “lutadores”, “mártires”, “resistência heróica” ressoa com discursos de grupos que historicamente foram além do ativismo político legítimo, migrando para o uso sistemático da violência, inclusive terrorismo. Há paralelos com ideologias revolucionárias ou guerrilheiras, que utilizam uma linguagem de opressão, colonização, extermínio, “inimigo externo”, etc.
Quando grupos ou indivíduos da extrema-esquerda usam essa retórica sem filtros, há um risco claro de:
- Normalização da violência como meio legítimo de ação política.
- Desestabilização social: atos que ultrapassam manifestações pacíficas podem gerar confrontos com autoridades, provocar repressão policial, causar danos colaterais que prejudicam civis.
- Retrocesso de liberdades civis, simplesmente porque governos respondem com leis mais duras, restrições à expressão, censura ou perseguição política.
- Erosão do debate democrático, pois não se lida com argumentos mas com slogans, símbolos e formas de polarização extrema.


