Hugo Armando Carvajal, conhecido como El Pollo, foi durante anos uma das figuras mais temidas do chavismo: general do Exército, chefe da inteligência militar e testemunha direta da ligação entre o regime de Hugo Chávez e o crime organizado. Agora, esse mesmo homem senta-se perante um juiz federal em Nova Iorque como testemunha arrependida.
Segundo fontes próximas do ex-espião venezuelano citadas pelo THE OBJECTIVE, El Pollo está disposto a revelar tudo — desde os pactos com as FARC até ao dinheiro que o chavismo distribuiu por todo o mundo para financiar a extrema-esquerda.
No passado dia 25 de junho, Carvajal declarou-se culpado de quatro crimes de narcotráfico e narcoterrorismo perante o juiz Alvin K. Hellerstein, no Tribunal do Distrito Sul de Nova Iorque. Admitiu ter feito parte do Cartel dos Sóis, uma organização criminosa infiltrada nas Forças Armadas venezuelanas e classificada como terrorista pelos Estados Unidos. Reconheceu também a sua cooperação com a guerrilha colombiana e o tráfico de toneladas de cocaína destinadas à América do Norte.
Essa confissão alterou o rumo do processo. O tribunal autorizou uma audiência — um último alegato antes da sentença — que poderá definir o seu destino. Trata-se do momento em que o arguido pode oferecer informações relevantes em troca de uma redução substancial da pena.
No caso de Carvajal, a diferença é abissal: entre prisão perpétua e uma pena muito mais curta. Fontes próximas afirmam que poderá ser condenado nos próximos meses a cerca de 20 anos de prisão, mas que não cumprirá a totalidade da pena graças a benefícios prisionais.
Cooperação com os Estados Unidos
Essas mesmas fontes asseguram que o ex-chefe dos serviços secretos chavistas está a colaborar ativamente com as autoridades norte-americanas e que, nos próximos dias, entregará documentação inédita sobre as redes internacionais de financiamento do chavismo — um tema que interessa tanto ao Departamento de Justiça como à DEA (Agência Antidroga dos EUA).
Carvajal, extraditado para os Estados Unidos em 2023 após dois anos foragido em Espanha, espera que a sua cooperação seja a chave para garantir uma sentença mais leve e, em última instância, a sobrevivência.
O financiamento da extrema-esquerda
A queda de El Pollo Carvajal foi longa e mediática. Detido em Madrid em 2021, após um breve período na clandestinidade, passou meses na prisão de Estremera. Durante esse tempo, prestou declarações ao juiz Manuel García-Castellón, na Audiência Nacional.
Em uma dessas sessões — segundo documentos confidenciais em poder do THE OBJECTIVE — Carvajal detalhou como o chavismo financiou movimentos populistas e de extrema-esquerda em vários países, incluindo o Podemos, em Espanha.
Segundo o ex-militar, a petrolífera estatal PDVSA funcionava como a grande “caixa negra” do socialismo bolivariano — um poço sem fundo a partir do qual eram financiadas campanhas políticas, meios de comunicação aliados e projetos ideológicos fora da Venezuela.
“O Governo venezuelano financiou ilegalmente movimentos políticos de esquerda em todo o mundo durante pelo menos 15 anos”, escreveu Carvajal num documento entregue ao magistrado.
Dinheiro para líderes e partidos em vários países
Carvajal enumerou nomes e países: Néstor Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Lula da Silva no Brasil, Fernando Lugo no Paraguai, Ollanta Humala no Peru, Manuel Zelaya nas Honduras, Gustavo Petro na Colômbia, o Movimento Cinco Estrelas em Itália e o Podemos em Espanha.
“Todos eles receberam dinheiro enviado pelo Governo venezuelano”, afirmou. Carvajal sustenta que esta rede internacional de financiamento político continua ativa sob o mandato de Nicolás Maduro, que — segundo o seu testemunho — manteve essa prática como parte da política externa venezuelana quando ainda era ministro dos Negócios Estrangeiros.
Um dos episódios mais surpreendentes descritos por Carvajal foi o do Movimento Cinco Estrelas (M5S), em Itália, partido fundado por Beppe Grillo. O ex-chefe da inteligência afirmou que o regime chavista enviou 3,5 milhões de euros em dinheiro vivo a Gianroberto Casaleggio, ideólogo e estratega do movimento, através de uma mala diplomática.
A operação, segundo o seu relato, foi executada por Tareck El Aissami, então ministro do Interior, e aprovada por Nicolás Maduro, à época chanceler. O mesmo método — diz — foi usado “para regar com dinheiro o Podemos e os Kirchner”.


